Memória TT Catalão: Um legado de resistência, cultura e transformação social

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Vanderlei dos Santos Catalão, conhecido como TT Catalão, foi jornalista, poeta, músico e ativista cultural. Nascido no Rio de Janeiro em 1948 e criado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, TT dedicou sua vida à luta pela justiça social e ao fortalecimento da cultura brasileira. Ele faleceu em 2 de janeiro de 2020, aos 71 anos, em Brasília. Sua trajetória atravessou a repressão política da Ditadura Militar e culminou em contribuições significativas para a cultura brasileira.

TT mudou-se para Nova Iguaçu em 1956, aos 8 anos, onde viveu até 1972. Em entrevista à ComCausa, na Rádio BFluminense em 2009, ele refletiu sobre sua juventude na Baixada Fluminense como um período essencial de formação.

“Aprendi a mobilizar, a minha força de trabalho, aprendi aqui. Inclusive nesse sentido de periferia, essa história que eu falo tanto de pertencimento, de não ser esmagado, de reagir, de acreditar nas suas forças, aprendi muito vivendo aqui.”

Durante a Ditadura Militar, TT enfrentou interrogatórios e prisões, incluindo uma na Vila Militar, enquanto vivia sob a constante vigilância e repressão. Ele destacou o papel fundamental da Igreja Católica e de líderes como Dom Adriano Hypolito, bispo de Nova Iguaçu, que ofereciam abrigo e apoio aos militantes.

“A Igreja Católica era a possibilidade de sobrevivência de muitos grupos de esquerda. Dom Adriano era fundamental em nossa vida.”


A resistência e os heróis anônimos

TT relatou que muitos de seus amigos desapareceram durante o regime militar. “Só de amigos meus, contando de cabeça, tem uns sete que sumiram. Eram pobres como eu. Esses pobres, nem são chamados de heróis da resistência. Não tiveram nem anistia. Amanheciam na vala de boca para cima, e diziam: ‘trocou tiro com a polícia’. Não era nada, estavam apenas extinguindo arquivo.”

Essas experiências moldaram sua visão sobre a importância de dar voz aos invisíveis:

“A ComCausa tem essa importância de mostrar que você não está sozinho, às vezes até somente para confortar. Esse é um valor que não está em nenhum manual metodológico, político ou partidário.”


Mudança para Brasília e consolidação profissional

Em 1972, TT mudou-se para Brasília, onde encontrou um ambiente propício para sua militância cultural e política. Ele ingressou no Correio Braziliense em 1976, destacando-se como jornalista cultural. Paralelamente, envolveu-se em movimentos artísticos e culturais que transformaram Brasília em um polo de resistência.

Em 1978, TT organizou a Mostra do Horror Nacional, evento que protestou contra a censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Também participou do filme Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha, simbolizando sua capacidade de transitar entre diferentes formas de arte.

Atuação cultural e política

TT assumiu cargos estratégicos na gestão pública cultural durante os anos 1980 e 1990. Ele foi chefe de gabinete da Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal e, em 1989, tornou-se o primeiro presidente eleito do Conselho de Cultura do DF.

Em 1993, criou e geriu o Espaço Cultural Renato Russo, um marco cultural de Brasília. Durante o governo Lula, TT foi um dos articuladores do programa Cultura Viva, que implementou os Pontos de Cultura em todo o Brasil. “O programa te dá um crachá, que é um escudo. Ele mostra que você não está sozinho.”, afirmou para a ComCausa em 2009.


Ligação com Nova Iguaçu e a ComCausa

Apesar de ter se estabelecido em Brasília, TT nunca perdeu sua conexão com Nova Iguaçu. Em 2009, participou da inauguração da sede da ComCausa, localizada no espaço cedido por Dom Adriano para movimentos sociais décadas antes. “Foi muito emocionante porque retomo [a casa] de certa maneira com o trabalho dos Pontos de Cultura, viajando o país todo”, declarou.

Ele também reconhecia a importância da comunicação para as periferias:

“A comunicação é um dado fundamental, já que as pessoas hoje podem contar a história do seu ponto de vista. Inclusão digital não é apenas você ficar se masturbando no mouse em lan-house. A gente precisa ter um princípio no uso, algo ligado à educação.”


Entrevista TT Catalão

Reflexões e legado

TT acreditava no poder transformador da cultura como ferramenta para amplificar as vozes historicamente silenciadas:

“Chegou a hora de falar quem só ouvia.”

Seu legado transcende sua ausência. Ele continua a inspirar novas gerações a enxergar a arte e a cultura como instrumentos para um Brasil mais justo e humano.

TT Catalão, nos deixou aos 71 anos na madrugada de quinta-feira, dia 02 de janeiro de 2020. Velado no Espaço Cultural Renato Russo, TT deixou esposa, dois filhos, uma filha e duas netas. Sua vida foi um testemunho de coragem, resistência e compromisso com a justiça social. TT Catalão permanece como um exemplo de que a transformação é possível por meio do poder da cultura e da empatia.

“Brasilia perde um pedaço de sua inspiração poética, de nossa criatividade no uso do idioma e de nosso estoque em simpatia tolerante” – Cristovam Buarque, Ex-senador e Ex-governador do Distrito Federal.

“TT Catalão chamava a atenção por sua sensibilidade, sua poesia, seu amor à cultura, a Brasília e ao Brasil. Era um desses seres iluminados, insubstituível. Perdi um amigo e uma pessoa a quem admirava muito” – Rodrigo Rollemberg, Ex-governador do Distrito Federal.

– Fontes: ComCausa, O Globo, Correio Braziliense e Revista Fórum.

– Atualizada 02 de janeiro de 2024.

TT Catalão na inalguração sede da ComCausa em 2009:

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