Memória: Nascimento Padre Bruno que dedicou a vida aos empobrecidos da Baixada

Pe. Bruno acervo ComCausa

Padre Bruno é de origem italiana, onde também foi ordenado sacerdote. Nasceu em 3 de abril de 1942, na cidade de Fossano, localizada na região do Piemonte. Atendendo a um chamado da Igreja local, veio para o Rio de Janeiro em 1969. Na Arquidiocese do Rio, atuou na comunidade da Vila Aliança, na Zona Oeste da cidade, destacando-se principalmente na luta pelos marginalizados. Lá, incentivou as mulheres de sua paróquia a se organizarem como trabalhadoras domésticas, lutarem por seus direitos — que hoje estão garantidos por lei — e a formarem o sindicato da categoria.

Ainda na Arquidiocese do Rio, Padre Bruno criou grupos de estudos bíblicos e de consciência política, o que acabou desagradando Dom Eugênio Sales, então arcebispo. Diante da falta de espaço e das divergências pastorais, transferiu-se para a Diocese de Nova Iguaçu, onde foi acolhido por Dom Adriano Hypólito.

Na Diocese de Nova Iguaçu, sua atuação foi ainda mais intensa em favor dos empobrecidos. Adepto da Teologia da Libertação e contemporâneo de Dom Adriano, Padre Bruno contribuiu para a reconstrução das comunidades eclesiais de base, lutou contra a ditadura militar e os grupos de extermínio. Foi um dos principais incentivadores da criação da Pastoral da Juventude, da Pastoral Operária e das Pastorais Sociais, além de apoiar a organização dos Movimentos de Associações de Bairro (MAB), que combatiam os grupos de extermínio na Baixada Fluminense e fortaleciam a articulação popular em defesa da vida e dos direitos.

Pe. Bruno acervo ComCausa
Pe. Bruno acervo ComCausa

A vinda de Padre Bruno e de outros religiosos para o Brasil foi impulsionada pela nova postura da Igreja Católica após o Concílio Vaticano II. Ainda na Itália, Padre Bruno relatava como as consequências da ditadura fascista de Mussolini afetaram profundamente os italianos, deixando marcas de morte e pobreza.

Ao chegar ao Lote XV, local marcado por altos índices de violência, Padre Bruno reconheceu as semelhanças com os horrores vividos sob o regime fascista e identificou, ali também, os impactos de uma ditadura ainda vigente no Brasil.

Na noite de terça-feira, 8 de novembro de 2022, por volta das 18h, Padre Luigi Costanzo Bruno faleceu na Itália, onde estava internado. Sua trajetória permanece como símbolo de fé, coragem e compromisso com os mais pobres e oprimidos.

Já atuando no bairro Lote XV, em Belford Roxo, Padre Bruno vivenciou, em 1988, uma das maiores tragédias ocorridas na região: a chacina que brutalmente tirou a vida de três irmãs e de seus pais, no bairro Jardim Amapá, área pertencente à Paróquia São Simão. No dia 3 de maio daquele ano, a família estava em casa quando os assassinos invadiram o local e cometeram o crime com requintes de extrema crueldade. A mãe, Maria das Neves, foi morta a tesouradas, junto com o filho que ainda carregava no ventre. As irmãs Eliete, de 9 anos, Elionete, de 7, e Elizete, de 5, foram violentadas e sufocadas. Após ser obrigado a testemunhar todo o horror, o pai, Sebastião Vidal dos Santos, também foi assassinado. Por fim, os criminosos ainda mataram os passarinhos e destruíram as plantas da casa. Não restou nenhuma vida.

Por estar dentro dos limites de sua paróquia, o religioso promoveu ações para que aquele local se tornasse um espaço de memória e resistência — o que hoje se conhece como Comunidade dos Mártires. Padre Bruno contava que, ao entrar no quarto onde o crime havia acontecido, viu uma rosa brotando do concreto, como se Deus dissesse que ali seria lugar de vida — e assim foi.

Padre Bruno no Jardim Amapá
Padre Bruno no Jardim Amapá.

Outro episódio marcante na trajetória de Padre Bruno foi sua atuação após a chamada Chacina da Baixada, ocorrida em 2005, quando homens armados assassinaram 29 pessoas inocentes a sangue frio. Ele contou que Dom Luciano Mendes de Almeida ligou pessoalmente, pedindo que fosse até o local. Ao chegar, encontrou o bispo ajoelhado sobre uma poça de sangue, orando pelas vítimas — uma cena que jamais esqueceu.

Padre Bruno será sempre lembrado por sua incansável luta em defesa dos empobrecidos. Dedicou-se com amor às Pastorais Sociais e à Pastoral da Juventude, sendo voz profética diante das injustiças e presença firme nas periferias da Baixada Fluminense.

Na noite de terça-feira, 8 de novembro de 2022, por volta das 18h, faleceu, na Itália, onde estava internado, o padre Luigi Constanzo Bruno. Amigos, familiares e a comunidade que tanto o admirava prestaram homenagens a esse homem cuja vida foi inteiramente dedicada ao povo.

Abaixo temos um DebatePapo com o Padre Bruno na sede da ComCausa, no dia 2 de dezembro de 2021.

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