O ano trouxe um trágico marco para a cidade: o maior número de pessoas baleadas ao entrarem por engano em comunidades desde 2016. Dados do Instituto Fogo Cruzado revelam que 17 vítimas foram atingidas em episódios que refletem a insegurança cotidiana e a progressiva perda de controle territorial pelo Estado frente às facções criminosas.
A vítima mais recente é Diely da Silva, de 34 anos, morta após entrar por engano na comunidade do Fontela, em Vargem Pequena, Zona Oeste da cidade. Gerente contábil em Jundiaí, São Paulo, Diely havia chegado ao Rio de Janeiro poucas horas antes do incidente. Durante uma corrida de aplicativo, o veículo em que estava foi alvejado ao acessar a comunidade.
O carro foi atingido por pelo menos três disparos: um no vidro traseiro, outro na parte de trás do veículo e o terceiro na lanterna. Enquanto Diely não resistiu aos ferimentos, o motorista, Anderson Sales Pinheiro, foi hospitalizado e liberado após atendimento médico. A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso, mas, até o momento, não há informações sobre os responsáveis pelos disparos.
Impacto humano e social
O aumento de vítimas reflete a normalização de tragédias em áreas negligenciadas pelo poder público. Entre as 17 pessoas baleadas em 2024, oito não sobreviveram. Além das mortes, as vidas de famílias, moradores e cidadãos que dependem da mobilidade pela cidade são profundamente impactadas.
A ausência de políticas públicas voltadas à prevenção desses incidentes expõe o desamparo estatal. O Estado não é apenas ausente nessas comunidades; ele perdeu sua autoridade. A população vive à mercê de facções e milícias, enquanto governos municipal, estadual e federal disputam narrativas em vez de implementar soluções reais.
A perda de controle territorial
O caso de Diely é mais uma evidência da crise de segurança pública no Rio de Janeiro, marcada pelo avanço do controle territorial de facções criminosas e milícias. Bairros inteiros tornam-se territórios paralelos, onde o Estado é incapaz de garantir a presença de serviços básicos ou a segurança de moradores e visitantes.
A ausência de governança fortalece as organizações criminosas, que transformam áreas residenciais em palcos de confrontos armados. Essa dinâmica cria um cenário de risco permanente para qualquer pessoa que, por engano, acesse essas regiões.
O abandono vai além da segurança. A precariedade de serviços básicos, infraestrutura e oportunidades econômicas perpetua a vulnerabilidade dessas áreas. Sem investimentos estruturais e presença constante, o Estado cede espaço para o fortalecimento de organizações criminosas, que impõem uma “gestão” baseada no medo e na violência.
Embora o governo estadual tenha lançado planos de segurança nos últimos anos, os resultados práticos ainda são insuficientes. A falta de uma ação integrada e consistente entre os poderes deixa claro que o problema não é apenas falta de recursos, mas de priorização política.
Um futuro de insegurança ou mudança?
O caso de Diely da Silva deve servir como um alerta para os governantes. Para evitar novas tragédias, é fundamental recuperar o controle dessas áreas por meio de políticas públicas eficientes e humanizadas, que combinem segurança, educação e inclusão social.
Enquanto o Estado não reassumir seu papel de protetor e provedor, as vítimas continuarão sendo apenas números em estatísticas que revelam o fracasso de uma gestão que permitiu a perda de territórios inteiros para o domínio criminoso. A tragédia de Diely não é um caso isolado — é um reflexo do abandono sistemático de milhares de cidadãos brasileiros.
Imagem de capa ilustrativa.
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