Julgamento de acusados pela morte de Moïse é retomado no Rio

Moïse Kabagambe

O julgamento dos acusados pelo assassinato do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, foi retomado nesta sexta-feira (14), às 10h, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. A sessão, iniciada na quinta-feira (13), foi suspensa por volta das 23h50 após depoimentos de seis testemunhas e interrogatórios de dois réus. Moïse foi brutalmente espancado até a morte em 24 de janeiro de 2022, no quiosque Tropicália, localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde trabalhava.

O vídeo que registra o espancamento brutal de Moïse foi exibido no tribunal durante o depoimento da primeira testemunha, mostrando as agressões que levaram à sua morte. As imagens chocaram todos os presentes e reacenderam a dor da família, que compareceu ao local com a bandeira da República Democrática do Congo e camisas estampadas com a foto de Moïse. A família do jovem congolês, assassinado em janeiro de 2022, vivenciou um momento de profunda emoção durante o júri popular que julga dois dos acusados. Maurice Magbo, irmão mais velho de Moïse, de 29 anos, demonstrou sua revolta e pediu justiça, enquanto sua mãe e outros familiares e amigos se mostraram indignados durante a exibição do vídeo e os depoimentos.

Durante a primeira fase do julgamento, a família de Moïse se emocionou ao assistir às imagens do crime exibidas no tribunal. O gerente do quiosque Tropicália, Jailton Pereira Campos, conhecido como “Baixinho”, foi a primeira testemunha a depor. Ele relatou que teve um desentendimento com Moïse antes do ocorrido e justificou não ter pedido socorro devido à ausência de um telefone no momento, descrevendo a situação como “traumática”. Jailton também afirmou ter pegado uma faca por medo, alegando que Moïse tentou agredi-lo com um espeto, embora as imagens mostrem que a vítima não chegou a tocá-lo.

O vigilante Maicon Rodrigues Gomes, presente no local no dia do crime, testemunhou que a intenção inicial era imobilizar Moïse e chamar a polícia, mas a situação saiu de controle. Carlos Fábio da Silva Muse, dono do quiosque Tropicália, negou que Moïse fosse uma pessoa conflituosa e afirmou que não havia dívidas pendentes com ele. Viviane de Mattos Faria, responsável pelo quiosque vizinho, entrou em contradição ao relatar os acontecimentos, inicialmente mencionando gritos e depois descrevendo apenas um falatório.

O caso de Moïse ganhou ampla repercussão nacional e internacional, levantando debates sobre racismo, xenofobia e direitos humanos no Brasil. A continuidade do julgamento é aguardada com expectativa pela sociedade, que clama por justiça e responsabilização dos envolvidos nesse crime brutal.

O que disseram as testemunhas?

O primeiro a falar foi o gerente do quiosque Tropicália, Jailton Pereira Campos, conhecido como “Baixinho”. Foi com ele que Moïse se desentendeu antes de ser morto pelos agressores. Durante o depoimento, Jailton foi questionado pela promotoria sobre a dinâmica dos fatos e justificou a falta de um pedido de socorro para o congolês.

“Na ocasião, eu estava sem telefone. Com tudo que passei, nem pensei em ligar”, disse o gerente, que também se referiu ao episódio como um momento “traumático”. Nesse momento, familiares e amigos de Moïse, que acompanhavam o júri, demonstraram revolta. Em resposta a outra pergunta da promotoria, Jailton justificou por que pegou uma faca durante a confusão com o congolês, que, segundo ele, queria levar mercadorias do quiosque sem pagar.

“Peguei porque tive medo. Não ia conseguir me defender. Teve um momento em que ele pegou um espeto no balcão e quase enfiou em mim, no meu pescoço”, disse. As imagens das câmeras, exibidas durante o depoimento, mostram que Moïse se aproxima do balcão do quiosque, pega o espeto de comandas e faz movimentos em direção ao gerente. Contudo, ele não chega a tocá-lo.

Após a exibição das imagens e os questionamentos da defesa, a promotoria voltou a perguntar sobre a suposta “ameaça” citada por Jailton. Em resposta, ele voltou atrás e afirmou que apenas se sentiu ameaçado naquele momento.

O segundo a depor foi o vigilante Maicon Rodrigues Gomes. No dia do crime, ele aparece nas imagens pedindo para Fábio, Aleson e Brendon pararem de agredir Moïse. Questionado pela promotoria sobre a crueldade das agressões, Maicon afirmou em depoimento: “a nossa intenção era pegar o Moïse, amarrá-lo e chamar a polícia. A intenção do grupo era essa, mostrar o vídeo para o dono do quiosque, provando que ele estava querendo roubar.”

Em seguida, foi a vez de Carlos Fábio da Silva Muse, dono do quiosque Tropicália, falar. Durante o depoimento, foram reproduzidos os áudios de Belo enviados após o crime. Na mensagem, ele pergunta sobre as imagens do quiosque e diz que seu “carão vai aparecer na filmagem”. Carlos também negou que Moïse fosse de causar confusão, mas confirmou que ele parecia estar alterado no dia em que foi morto. Ao fim, o dono do estabelecimento negou que houvesse qualquer dívida com o congolês.

A quarta testemunha de acusação a falar foi Viviane de Mattos Faria, responsável pelo quiosque vizinho ao Tropicália, o Biruta. Durante a sua fala, a testemunha entrou em contradição. Inicialmente ela afirmou ter ouvido gritos vindo da área externa do Tropicália, no momento em que o congolês era agredido. Contudo, no depoimento de hoje ela disse que ouviu na verdade um falatório, como se fossem pessoas brigando.

Durante o júri, Viviane disse ainda que ouviu a história de que Moïse estaria descontrolado por ter perdido uma companheira e o seu filho durante o parto. A família, contudo, desconhece essa história e nega que ele tivesse namorada.

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Caso Moïse Mugenyi Kabagambe

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