Memória: Nascimento de Olga Benário

Olga Benário - site ComCausa Defesa da Vida

No dia 12 de fevereiro de 1908, nascia em Munique, Alemanha, Olga Gutmann Benário Prestes, uma mulher cuja trajetória de luta e resistência marcou a história do século XX. Judia e comunista, enfrentou o fascismo, combateu injustiças e sacrificou sua própria vida pelos ideais em que acreditava. Sua prisão no Brasil, em 1936, e posterior deportação para a Alemanha nazista resultaram em um dos episódios mais brutais da história da repressão política no país. Em 23 de abril de 1942, foi assassinada em uma câmara de gás no campo de extermínio de Bernburg.

Filha do advogado Leo Benário e da socialite Eugénie Gutmann Benário, Olga cresceu em uma família judia de classe média em Munique. Desde cedo, demonstrou um espírito combativo, ingressando, aos 15 anos, na organização juvenil do Partido Comunista Alemão (KPD). Em pouco tempo, tornou-se um dos principais nomes da militância comunista na Alemanha, destacando-se em lutas de rua contra grupos paramilitares de extrema-direita em Berlim.

Aos 21 anos, foi presa sob a acusação de alta traição, junto com seu então companheiro Otto Braun. Libertada pouco tempo depois, participou da organização de um ousado plano para resgatar Braun da prisão de Moabit. Após o bem-sucedido resgate, fugiram para a União Soviética, onde Olga recebeu treinamento político-militar e se tornou um quadro de destaque da Internacional Comunista. Em 1931, separou-se de Braun e passou a trabalhar na formação de novos militantes revolucionários.

A Chegada ao Brasil e a Intentona Comunista
Em 1934, Olga foi enviada ao Brasil para atuar ao lado de Luís Carlos Prestes, com quem rapidamente desenvolveu uma relação amorosa. A missão era organizar uma revolução comunista com apoio da União Soviética, fortalecendo o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

O movimento insurrecional começou em novembro de 1935, quando um levante armado irrompeu em Natal. A revolta logo se espalhou para outras regiões, como Recife e Rio de Janeiro, mas foi violentamente reprimida pelo governo de Getúlio Vargas. A chamada Intentona Comunista fracassou, resultando na prisão e tortura de centenas de militantes.

Olga e Prestes conseguiram viver na clandestinidade por alguns meses, mas foram capturados em março de 1936. Grávida de sete semanas, Olga foi levada para a Casa de Detenção no Rio de Janeiro e, apesar de sua condição, foi deportada para a Alemanha nazista a pedido de Adolf Hitler.

A Deportação e a Separação de sua Filha
A decisão de Vargas de entregar Olga à Gestapo foi um dos episódios mais infames da história brasileira. Apesar dos apelos internacionais, incluindo uma intensa campanha liderada por Leocádia Prestes, mãe de Luís Carlos Prestes, o governo brasileiro atendeu ao pedido dos nazistas, assinando sua sentença de morte.

Transportada no navio alemão La Coruña, Olga chegou à Alemanha em 18 de outubro de 1936 e foi imediatamente presa. Em fevereiro de 1937, na prisão de Barnimstrasse, deu à luz sua filha, Anita Leocádia Prestes. Após meses de luta, Anita foi entregue à avó, Leocádia, graças à pressão de militantes comunistas ao redor do mundo.

Em uma carta emocionante, Olga expressou a dor da separação e a esperança de que sua filha fosse um símbolo do amor entre ela e Prestes:

**“Certamente já sabe há muito tempo, pela nossa querida mãe, que a nossa pequenina não está mais comigo. Posso afirmar, com certeza, que de 5 de março de 1936 a 21 de fevereiro de 1938, atravessei o período mais negro de minha vida. Entende certamente, o quanto um homem pode compreender o que se passou em mim e o que se percebe e o que significa ser mãe.

Diante de tais acontecimentos tem-se a seguinte alternativa: o bem se é cobrado o bem te endurece. Tu sabes que somente a segunda alternativa pode me colocar. Para isso sou ajudada firmemente pelo fato de que ainda sou capaz de distinguir entre pouco significado do que diz respeito a uma pequena pessoa em particular e os acontecimentos que interessam em geral a todo e ao inverso.

Mas já imaginaste alguma vez, como são extraordinários os azares do destino. Nós dois estamos atrás dos muros de uma prisão em dois continentes diferentes. Da nossa vida em comum nasceu um pequeno ser e agora este ser encontra-se seguro nos braços da nossa querida mãe. Que Anita Leocádia seja a representante do nosso amor e da nossa solicitude junto a nossa mãe.”**

A Morte na Câmara de Gás
Após a separação de sua filha, Olga foi transferida para o campo de concentração de Lichtenburg e, em 1939, enviada para Ravensbrück, um dos mais brutais campos de mulheres do regime nazista. Lá, organizou atividades de resistência, ajudando suas companheiras de prisão a manterem a dignidade diante do horror.

Com a Segunda Guerra Mundial em andamento, o destino de Olga foi selado. Considerada uma “comunista perigosa e obstinada” pelos nazistas, foi enviada para o campo de extermínio de Bernburg, onde foi assassinada em 23 de abril de 1942, em uma câmara de gás. Junto dela, outras 199 mulheres também foram executadas.

A notícia de sua morte chegou à família apenas em 1945, com o fim da guerra. Décadas depois, documentos secretos da Gestapo foram revelados, demonstrando que Olga esteve sob constante vigilância e que sua resistência dentro dos campos era vista como uma ameaça ao regime nazista.

Legado e homenagens
A história de Olga Benário tornou-se um símbolo da luta antifascista e da resistência comunista. Em diversos países, seu nome batiza escolas, praças e ruas. Na antiga Alemanha Oriental, sua memória foi cultuada como a de uma heroína, e sua vida inspirou livros, filmes e documentários.

No Brasil, a biografia escrita por Fernando Morais, Olga, publicada em 1985, popularizou sua história e serviu de base para o filme homônimo de Jayme Monjardim, lançado em 2004.

Mesmo décadas após sua execução, Olga segue sendo lembrada como um exemplo de coragem e compromisso com a justiça social. Seu legado resiste como uma inspiração para aqueles que continuam a lutar contra regimes opressores e pela construção de um mundo mais justo.

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