Em 12 de fevereiro de 2005, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi brutalmente assassinada com seis tiros em uma estrada vicinal de Anapu, no Pará. Aos 73 anos, Dorothy dedicava sua vida à defesa da floresta amazônica e dos trabalhadores rurais, atuando contra grileiros, madeireiros e fazendeiros que exploravam ilegalmente terras públicas. Sua luta pela reforma agrária e pela implementação de projetos de desenvolvimento sustentável incomodava os grandes proprietários de terra da região, que encomendaram sua morte.
O crime foi meticulosamente planejado e executado por pistoleiros contratados pelos fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido como Bida, e Regivaldo Pereira Galvão. Rayfran das Neves Sales foi o responsável pelos disparos e, segundo depoimentos, antes de ser executada, Dorothy ainda teve tempo de abrir a Bíblia e ler um trecho para seus assassinos. Amair Feijoli da Cunha, intermediário do crime, contratou os pistoleiros Rayfran e Clodoaldo Carlos Batista. A execução da missionária gerou comoção internacional e trouxe à tona a violência que impera no campo brasileiro, especialmente na Amazônia.
Cinco homens foram condenados pelo assassinato de Dorothy Stang, mas apenas um ainda está atrás das grades. Rayfran das Neves Sales, condenado a 27 anos, teve progressão de pena e hoje cumpre prisão domiciliar. Amair Feijoli da Cunha foi beneficiado com a delação premiada e teve sua sentença reduzida para 18 anos, dos quais já cumpriu a maior parte. Clodoaldo Carlos Batista, condenado a 17 anos, também não está mais em regime fechado. Os mandantes do crime, Vitalmiro Bastos de Moura e Regivaldo Pereira Galvão, foram condenados a 30 anos de prisão, mas conseguiram progressão de pena. Vitalmiro foi absolvido em um julgamento e depois condenado novamente, mas hoje está em liberdade. Regivaldo só foi preso em 2019, após anos recorrendo da sentença, mas em 2022 passou para o regime semiaberto.
A impunidade dos assassinos de Dorothy Stang expõe um problema estrutural no Brasil: a violência no campo segue sendo um dos maiores desafios para a justiça e para os direitos humanos. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Pará continua liderando o ranking de conflitos agrários no país. Em 2023, foram registrados 226 casos de violência no campo, envolvendo indígenas, trabalhadores rurais sem terra, posseiros e pequenos agricultores. A grilagem de terras, o desmatamento ilegal e o trabalho escravo continuam sendo práticas comuns na região, alimentadas pela falta de punição aos responsáveis.
O município de Anapu, onde Dorothy viveu e morreu defendendo a floresta e os pequenos agricultores, permanece como um dos mais violentos do Pará. Em 2024, a cidade apareceu na 6ª posição entre as mais perigosas do estado, com altos índices de assassinatos ligados a conflitos fundiários. A falta de ações concretas para proteger lideranças comunitárias faz com que novos casos como o de Dorothy sigam ocorrendo impunemente.
Em 2025, com a realização da COP 30 no Brasil, a luta de Dorothy Stang precisa ser lembrada e resgatada como símbolo da resistência contra a destruição da Amazônia e a violência contra aqueles que a defendem. Movimentos sociais e entidades de direitos humanos realizam, anualmente, atos em memória da missionária. Em Belém, o Comitê Dorothy organizou um ato inter-religioso na Praça do Can, no bairro de Nazaré, para relembrar suas causas e reivindicar justiça. A melhor forma de honrar seu legado é continuar exigindo proteção aos trabalhadores rurais e responsabilização dos mandantes desse e de tantos outros crimes no campo.
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