Na noite de 13 de março de 2014, o tenente PM Leidson Acácio Alves Silva, de 27 anos, foi morto durante uma troca de tiros no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, enquanto estava de serviço na UPP Vila Cruzeiro. O ataque ocorreu depois que criminosos dispararam contra o contêiner que serve como base administrativa da UPP. Leidson, que fazia parte de uma guarnição em busca dos responsáveis pelo ataque, foi atingido na testa durante um confronto. Apesar de ter sido socorrido e encaminhado ao Hospital Getúlio Vargas, não resistiu aos ferimentos. Ele estava na Polícia Militar há pouco mais de três anos e se tornara um exemplo de superação pessoal e profissional, depois de ter enfrentado dificuldades na infância, como a vivência nas ruas. Conseguiu, com muito esforço, concluir o supletivo e ingressar na PM aos 23 anos.
A violência contra policiais no Rio de Janeiro é um tema de grande complexidade e impacto social. Entre 2016 e 2020, o estado registrou 506 homicídios de policiais, sendo que 148 dessas mortes ocorreram enquanto os agentes estavam em serviço. Durante folgas, o número de policiais mortos foi ainda maior, com 358 casos. Em 2024, o Rio de Janeiro registrou 36 assassinatos de policiais, um número que embora represente uma redução comparada aos anos anteriores, ainda reflete a realidade violenta enfrentada pelos profissionais de segurança. Além disso, o aumento de mortes resultantes de intervenções policiais sugere que a violência continua a escalar no estado. Esses dados ressaltam a necessidade urgente de uma reforma nas políticas de segurança pública para proteger tanto os policiais quanto a população.
A letalidade policial no Rio de Janeiro é uma das mais altas do mundo. Em 2015, mais de 600 pessoas morreram em confrontos com a polícia, e em 2008, a PMERJ foi considerada a polícia mais letal do planeta, com índices superiores aos de países como Estados Unidos, África do Sul e Argentina. Essa situação exige uma reflexão sobre as práticas de segurança e o impacto da violência sobre a sociedade como um todo. Ao mesmo tempo, é preciso destacar o custo emocional e psicológico da profissão. Entre 2018 e 2023, mais de 1.000 policiais cometeram suicídio no Brasil, uma média alarmante de um agente por dia. Este dado evidencia a necessidade urgente de políticas de saúde mental para os profissionais que enfrentam uma carga de trabalho intensa e arriscada.
Leidson Acácio era casado com Jaqueline Oliveira e foi sepultado com grande comoção, sendo lembrado como um exemplo de superação. Cerca de 200 pessoas estiveram presentes em seu funeral, incluindo familiares, amigos e autoridades da PM. Sua trajetória foi lembrada em eventos como a caminhada da chacina da Baixada, onde a ComCausa levou um banner em sua memória. Em 2015, o fundador da ComCausa, o jornalista Adriano Dias, destacou o exemplo de Leidson no programa ‘Caminhos da Reportagem’, afirmando que “esta guerra não tem lado”, ao refletir sobre o impacto da violência na vida de policiais. O programa foi premiado no Prêmio TAL de 2016 e, com isso, a memória de Leidson foi mantida viva. Além de seu trabalho na PM, Leidson também foi um ativista, engajado em movimentos sociais e estudantis na Baixada Fluminense, onde morava. Ele foi lembrado como um jovem que, apesar das dificuldades, fez uma escolha diferente e construiu uma carreira digna, servindo de exemplo para muitos outros jovens da região. A sua morte trágica é um reflexo de uma realidade de violência que afeta tanto os profissionais da segurança pública quanto a sociedade como um todo.
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